A PARTILHA DO FERREIRO


Pintura A PARTILHA DO FERREIRO

O QUE SOMOS FEITOS?

Essa foi uma pergunta que Valentina, minha filha (de apenas 8 anos), me fez, por que estamos estudando o corpo humano. O que em uma primeira observação falei que somos feitos de ossos, musculos, pele, pelo e muita tripa. Mas se eu estivesse conversando com uma Valentina ja mais desenvolvida, lá com seus 15 anos de idade eu faria a seguinte explicação:

Filha nós somos constituídos por um conjunto de órgãos e, ao analisarmos um único órgão, por exemplo, utilizando um microscópio para observar sua composição, percebemos que ele é formado por células. E do que são feitas as células? Ao ampliar as células no microscópio, notamos que elas são compostas por um conjunto de moléculas. E do que são feitas as moléculas? Ampliando ainda mais, vemos que são constituídas por átomos. E do que são feitos os átomos? De subpartículas: prótons, elétrons e nêutrons. E se examinarmos, por exemplo, os prótons, do que são feitos os prótons? Eles são compostos por quarks. E se utilizarmos um mega microscópio para observar do que são feitos os quarks, descobrimos que são constituídos pelo bóson de Higgs. E ao analisar o bóson de Higgs, encontramos apenas energia, mais nada. Assim, tudo que existe na Terra, é constituído por uma única energia que une absolutamente todas as coisas. Portanto, tudo é feito de energia e, se treinarmos nosso olhar, conseguimos ver nossa própria aura. A aura é um envoltório energético que não só os seres humanos possuem, pois tudo tem aura. Tudo é energia, e aqui chegamos à mecânica quântica.



Assim explicaria para minha filha e acho que seria a melhor maneira para se entender o campo do religare e do se contectare com o desconhecido. A compreensão de que tudo é feito de energia tem implicações profundas na nossa percepção do universo e de nós mesmos. A mecânica quântica, campo da física que estuda as menores partículas do universo, revela que o comportamento das partículas subatômicas é influenciado por diversos fatores, incluindo a observação e a intenção humana. Esse fenômeno, conhecido como efeito observador, sugere que a realidade é interativa e que a consciência pode ter um papel fundamental na formação do mundo material. Dessa forma, não somos apenas passivos habitantes do universo, mas participantes ativos na criação da realidade ao nosso redor.



Essa interconectividade energética pode ser percebida em várias tradições espirituais e filosóficas ao redor do mundo, que há muito tempo reconhecem a unidade fundamental de todas as coisas. Na filosofia oriental, por exemplo, o conceito de prana ou chi representa a energia vital que permeia o universo e conecta todos os seres vivos. Já nas tradições africanas, como o Candomblé e a Umbanda, a energia dos Orixás representa forças naturais que regem diferentes aspectos da vida e da natureza. Essas tradições nos lembram que somos parte de um todo maior e que a nossa existência está intrinsecamente ligada a tudo que nos cerca. Mas se voce chegou no final dessas minhas poucas reflexões, das duas uma: ou você ainda discrimina os Orixás e tudo que veio com os escravisados da África para as americas ou você compartilha que boa parte do legado trazido pelos escravisados para as américas em sua boa parte é um conhecimento milenar que fala de um mundo complexo muito mais sutil e refinado não acessivel para todos. Assim, tudo que existe na Terra, são forças energéticas que eu chamo de Orixás.



Está tudo bem, mas o que todo esse texto tem a ver com a pintura "A Partilha de Ogum"? Muito simplesmente, porque Ogum é uma energia que compartilha partículas. No momento em que Ogum sugere aos seus “seguidores” que formem um círculo e unam as mãos para distribuir os grãos, ele não revela sua verdadeira intenção: fazer com que aquelas mãos se toquem e recebam, além dos grãos que carregam sua energia individual, a energia uns dos outros. Ao tocar outros dedos, eles compreendem o profundo significado de família, que não se limita à consanguinidade, mas envolve a ajuda mútua.

Mãos de Andé e Valentina Mustafá
"Estamos aprendendo o jogo dos palitinhos, você conhece?"


Como assim "ajuda mútua"? A pintura nos mostra que Ogum não prepara a comida para oferecer diretamente na boca de ninguém, mas fornece um caminho, desde o plantio das sementes, para que a união e os esforços de cada uma daquelas mãos possam trabalhar juntas. Ogum é o senhor da civilização, não apenas da criação e desenvolvimento de ferramentas, mas também aquele que provoca o encontro dos átomos: o encontro dos olhos.

Forte abraço

Andre Mustafá

25/07/2024

Portugal/ Aver-o-Mar

detalhe da pintura feita por André Mustafá com canetas esferograficas.

André Mustafá realizando a pintura A PARTILHA DO FERREIRO

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Bibliografia

1. Capra, F. (1996). **The Web of Life: A New Scientific Understanding of Living Systems**. Anchor Books.

2. Greene, B. (2004). **The Fabric of the Cosmos: Space, Time, and the Texture of Reality**. Vintage Books.

3. Bohm, D. (1980). **Wholeness and the Implicate Order**. Routledge.





 

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