No começo da criação da Terra, os Orixás descem dos nove céus para iniciar o plantio. Na pintura da esquerda para a direita uma figura feminina representada pela Orixá Oxum das águas doces fertiliza a semente sagrada de Obí com seu sangue que escorre por suas entranhas. Ela firma o poder da noite... Da lua. No centro o Orixá Exú ejaculando em sua mão (que nela contem sua digital), o sêmen da vida, proporcionando movimento, crescimento e individualidade a tudo. Na extrema direita o Orixá Oxalá com seu cajado (Opá xorô) abrindo as fendas na terra, nos mostra solo firme, mostra-nos que os segredos dos anciãos nunca se perderam e estarão guardados e seguros por baixo de nossos pés. No centro abaixo está o Orixá Onilé (o Senhor da terra, do barro: do firmamento) que recebe de braços abertos e sustenta o solo, proporcionando vida longa as novas formas de existência. Aqui só se pode realizar projetos no coletivo.
Onilé é um Orixá que representa a base de toda a vida, a Terra-Mãe, tanto na vida como na morte, se caracteriza por ser o princípio e representação coletiva dos eleguns e egunguns (espíritos ancestrais).
Em algumas tradições, Onilè, contração de oni (senhora) e ilè (terra, espaço), é a Senhora da Terra, é uma divindade feminina, representa a Mãe Terra (onde acolhe os ancestrais), Egungum. Conta-se que quando Olorum (deus suopremo dos iorubás) reuniu os orixás para dividir o poder sobre a criação entre eles, uma de suas filhas, Onilé, escondeu-se sob a terra. E acabou ganhando por este motivo poder e autoridade sobre ela.
A primeira parte de todos os sacrifícios de (Ejé) sangue é sempre derramada sobre a terra, independente de para qual entidade ou divindade seja o sacrifício, este gesto é uma forma de lembrar e reconhecer o poder de Onilé. Tudo vem da terra e a ela retorna.
Oxalá o ancião que carrega o OPAXORÔ, símbolo fálico que penetrando na terra a ponta deste cajado faz uma fenda para que posteriormente seu filho Exú fertilize as sementes e por fim Oxum derrame suas Àguas sagradas.
Esse ciclo poderia muito bem ser entendido como: OXALÁ as nuvens ou o espaço dos céus, desprendendo chuvas, orvalho da madrugada ou brisa... que provocam movimentos e modulações na terra, se encontrando com Exú (que rege as mutações físicas e químicas com o seu calor, promovendo a movimentação de cada vida, provocando nas sementes a ativação e a manifestação de suas partículas individualizadas) e Oxum a senhora patrona das águas, a própria humidade do planeta, nutrido, hidratando e mantendo o ciclo vivo.
Para o artista André Mustafá vida e morte são iguais, e Ele sabe que o conceito de vida e morte para os iorubás não tem essa "dor" ou esse "martírio" que em outras culturas se faz presentemente viva.
"A morte pode se dá, até mesmo quando aparentamos está vivos, pois morrer é uma forma de esquecimento. Daí ser esquecido é ser ignorado ou quando nos isolamos. A vida na terra é interação e movimento, mesmo que sejam sutil - mas sem movimentos e interações não se pode viver em terra. Não tem cabimento um ser está usufruindo um espaço com atmosfera e não fazer valer sua individualidade". (ANDRE MUSTAFÁ)
Aqui Onilé de braços abertos recebendo de bom grado as sementes. Aqui o Artista André Mustafá representa Onilé com os braços feitos de ossos informando que sua matéria prima é feita daquilo que foi um dia vivo em cima da terra e que continua tendo ressignificações em baixo da terra. Afinal de contas a vida não morre quando vai para debaixo da terra, Ela continua pulsando de outras maneiras e dando força ao nascimento de novas sementes. "Sem Onilé (a Terra) nada somos" = André Mustafá
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