O BANQUETE DO REI por André MUSTAFÁ




Exposição: Fronteiras com os Orixas. . .
Técnica: Esferográfica
Dimensões: 210x297 mm
Título: Olubajé; O Banquete do Rei
Ano de conclusão: 14 de Abril 2020
Local de Realização: Portugal / Aver-o-Mar

Na cerimônia do Olubajé; no qual o Rei Obaluaiyê reúne todos os Orixas (e seus filhos) para juntos comerem/comungarem de mãos as comidas típicas na folha da mamoma (ewe lara ). Essa festa /cerimônia promove o fortalecimento do corpo físico sobre a terra dos adeptos e simpatizantes do Candomblé.

Assim cada Orixa leva para a festa - Olubajé, o seu melhor que será partilhado com todos. A união desses elementos de axé, se dará no centro da folha de mamoma, indicando simplicidade, humildade e retorno as origens como parte da reflexão de cada irmão.

Nessa pintura não temos a presença do corpo humano, que pela primeira vez na série de mais de 40 pinturas o artista André Mustafá tende a caminhar pelo universo abstracionista e não representar os Orixas semelhantes ao homem.

Orixa é força da natureza, antes da codificação do humano sobre a terra, portanto o que estamos tratando aqui é da essência. Do retorno às origens para a cura do corpo físico.


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Essa pintura foi desenvolvida na época da pandemia do Covid-19, é uma oração. Aqui os potes de grãos e alimentos se reúnem para derrotar qualquer enfermidade ou qualquer inimigo. Na festa do Rei Obaluaiê, no olubajé todos os axés se reúnem nas folhas e comemos com as mãos, reverenciando os povos mais antigos da terra e seus mistérios.

 

O que é o Olubajé?

O Olubajé comemorado em todo o Brasil no mês de agosto, trata-se de uma cerimônia em homenagem ao Orixá Omolu, que tem como intuito agradar essa divindade ofertando-lhe comidas. Olubajé é a festa, onde as comidas são servidas na folha de mamona. Rememorando um itã (mito) onde todos os Orixás para se acertarem com Obaluaiê, por motivos de ter sido chacoteado numa festividade feita por Xangô por sua maneira de dançar.

 

CONTO

Diz uma lenda que Xangô, um Rei muito vaidoso, deu uma grande festa em seu palácio e convidou todos os Orixás, menos Obaluaiyê, pois as suas características de pobre e de doente assustavam o rei do trovão.  No meio do grande cerimonial todos os outros Orixás começaram a notar a falta do Orixá Rei da Terra e começaram a indagar o porquê da sua ausência, até que um deles descobriu de que ele não havia sido convidado.

Todos se revoltaram e abandonaram a festa indo a casa de Obaluaiyê pedir desculpas, Obaluaiyê recusava-se a perdoar aquela ofensa até que chegou a um acordo; daria uma vez por ano uma festa em que todos os Orixás seriam reverenciados e este ofereceria comida a todos desde que Xangô comesse aos seus pés e ele aos pés de Xangô.

Nascia assim a cerimónia do Olubajé. Porém, existem diversas outras lendas que narram outros motivos sobre o porquê de Xangô e Ogum não se manifestarem no Olubajé.

Na festividade do Olubajé, todos os Orixás participam (com exceção de Xangô), principalmente Oçânhim (Ossaim), Oxumarê, Nanã e Ieuá (Ewá), que são de sua família. Oiá (Iansã) tem papel importante por ser ela que ajuda no ritual de limpeza e trazer para o barracão de festas a esteira (tapete feito de palha), sobre a qual serão colocadas as comidas. "Tem uma cantiga em iorubá que diz assim: 'è arayè Olubajé, Olubajé ajeun nbó'. Significa 'povo da terra, o senhor aceitou comer, vamos comer e adorá-lo'. Omolu é o senhor da terra. E a terra é a maior boca do mundo. Se alimentamos a terra, ela nos alimenta de volta. Esse é um dos significados do Olubajé". Olubajé é festa/ritual especifico para o orixá Obaluaiê/Omolú, indispensável nos terreiros de candomblé (casa religiosa afro brasileira), no sentido de prolongar a vida e trazer saúde a todos os filhos e participantes do axé (força).

No encerramento deste rito é oferecido no mínimo nove iguarias da culinária afro-brasileira chamada de comida ritual pertinente a vários Orixás, simbolizando a Vida, sobre uma folha chamada "euê lará" (Ewè Lará) conhecida popularmente como planta Mamona, "altamente venenosa" simbolizando a Morte (Ikú). Esse desenho/pintura que fiz fala do momento que que as comidas se misturam na folha, trazendo força e união entre os Orixás e os participantes que ali estão.

 

Esse conto traz várias lições valiosas:

1.Respeito pela diversidade: Mostra a importância de respeitar as diferenças e aceitar a todos, independentemente de sua condição social ou aparência. Xangô cometeu um erro ao excluir Obaluaiyê apenas por suas características físicas.

2.Reconhecimento dos erros e perdão: Os outros Orixás reconheceram o erro de Xangô e foram pedir desculpas a Obaluaiyê. Isso destaca a importância de reconhecermos nossos erros, pedir perdão quando necessário e perdoar aqueles que nos ofendem.

3.Negociação e reconciliação: A história mostra como a negociação pode levar à reconciliação. Obaluaiyê propôs uma solução para o problema, criando a cerimônia do Olubajé, que permitiria a todos os Orixás serem reverenciados.

4.Tradição e celebração: O Olubajé se tornou uma tradição importante, celebrando a união e a diversidade entre os Orixás. Isso nos lembra da importância de celebrar nossas diferenças e criar momentos de união e alegria.

5. Humildade e igualdade: O acordo final entre Xangô e Obaluaiyê demonstra a importância da humildade e da igualdade entre todos, independentemente de seu status ou poder. Ambos concordaram em se colocar ao nível do outro, mostrando respeito mútuo.

6. Reconhecimento da diversidade de habilidades: Cada Orixá possui habilidades e características únicas, e é importante reconhecer e valorizar essa diversidade, pois contribui para a harmonia e integridade do reino celestial.

7. Importância da inclusão social: A exclusão de Obaluaiyê pela sua condição física nos lembra da importância de combater a discriminação e promover a inclusão de todos na sociedade, independentemente de sua aparência ou status.

8. Aceitação das diferenças: O acordo entre Xangô e Obaluaiyê enfatiza a importância de aceitar e respeitar as diferenças entre as pessoas, reconhecendo que cada um tem sua própria singularidade e dignidade.

9. Celebração da diversidade cultural: O Olubajé não apenas simboliza a reconciliação entre Xangô e Obaluaiyê, mas também representa a celebração da diversidade cultural e espiritual, mostrando que a união na diversidade é fonte de riqueza e harmonia.

Essas são apenas algumas das sabedorias que podemos extrair desse conto. Ele nos convida a refletir sobre questões de respeito, perdão, negociação e celebração da diversidade.

Diante dos desafios impostos pela pandemia de COVID-19, podemos buscar inspiração nas lições profundas do conto envolvendo Xangô e Obaluaiyê, o senhor da cura. Assim como na história, onde a exclusão de Obaluaiyê da festa de Xangô revelou a importância da diversidade e inclusão, durante a pandemia é fundamental reconhecermos a valorização de todos os indivíduos, independentemente de sua condição ou origem. Obaluaiyê, como o senhor da cura, nos lembra da importância de cuidar dos mais vulneráveis e promover a igualdade de acesso à saúde e bem-estar.

A narrativa também nos ensina sobre a necessidade de reconhecer nossos erros e buscar o perdão, como os outros Orixás reconheceram o equívoco de Xangô e foram pedir desculpas a Obaluaiyê. Da mesma forma, na pandemia, é essencial admitirmos falhas, tanto individuais quanto coletivas, e trabalharmos juntos para encontrar soluções colaborativas e compassivas para os desafios enfrentados.

Por fim, o conto ressalta a importância da solidariedade, cooperação e celebração da resiliência humana. Ao nos unirmos em apoio mútuo e reconhecimento das lutas compartilhadas, fortalecemos nossos laços comunitários e mantemos viva a esperança de um futuro mais saudável e equitativo para todos, assim como a cerimônia do Olubajé simboliza a união e a celebração da diversidade entre os Orixás.



André Mustafá em Campinas/ Brasil 2019 junto com suas esculturas. Observe o tamanho da Escultura de Omolú ao centro.



ESCULTURA DE OMOLÚ
by André Mustafá



 

Omolú Orixá que redimensiona o corpo fisico e reconduz a alma ao despertar.
Essa escultura de André Mustafá se encontra atualmente no Brasil.


Aqui vemos os restos mortais (ossada) nas costas de Omolú em seus pés e a alma em seus braços aprendendo a olhar para frente. Continuar na jornada.


Mustafá sempre informa aos compradores de suas esculturas que Elas não são amuletos magicos, não devem ser colocadas em altares e nem tão pouco serem expostas para orações coletivas. As esculturas são objetos de reflexão profunda do ser humano na terra. Se a escultura promover sua mudança de atitude sobre determinados aspectos da vida, então ela sim estará funcionando para o seu avanço espiritual.


Orixá Omolú é de extrema importancia para o ciclo natural da vida e da reconciliação e reequilirbio do corpo fisico afastando ou amenizando as doenças e epidemias. Omolú é chamado pelos mais antigos como o "médico dos pobres" que junto com o outro Orixá Ossaim compreende o grande universo fitoterapeutico das plantas que vem sido esquecido pelo ocidente e pela dita medicina moderna.




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